Técnica de equitação própria ao enduropor Guilherme F. Santos e Pierre Cazes
"Conduzir o cavalo a trabalhar dentro de uma atitude justa, evitando consumir a sua energia, significa preservar seu aparelho locomotor. Um cavalo que participa de provas de alto nível necessita de uma grande carga de trabalho. Para suportá-la é preciso trabalhar correctamente.
Bases do Adestramento do Cavalo de Enduro1 - Disponibilidade do cavaloSeja qual for a disciplina, é através de ajudas que se obtém o controle do movimento do cavalo, desde a mais simples (cavalgada) até a mais sofisticada (alta escola). Estas ajudas são traduzidas através das pernas, das mãos e da bacia. Em todos os casos, são acções simples ou, então, combinação de acções que fazem com que o cavalo produza o gesto que pedimos.
Para isso, é preciso que o cavalo esteja disponível, ou seja, que a todo momento ele aceite e ceda ao pedido das ajudas. Esta noção de disponibilidade é fundamental. O adestramento adaptado a uma prática consiste em:
- Ensinar ao cavalo os exercícios, as figuras e as transições próprias a esta prática;
- Ensinar ao cavaleiro que ele deve estar seguro desta disponibilidade a todo o momento.
Em adestramento puro, por exemplo, a disponibilidade é consequência do fechamento dos ângulos da nuca e da bacia.
O deslocamento tem uma amplitude vertical. O gesto é redondo, a tonicidade física e mental é máxima. No Enduro, existem longos períodos onde a cadência, o equilíbrio e o andamento obtidos e as ajudas não interferem em nada. Elas são passivas e vigiadas. Os ângulos do cavalo são abertos para se ter um deslocamento horizontal, económico e relaxado.

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O contacto com a boca é feito somente pelo uso das rédeas. As pernas não interferem. Ao galope, o assento deve acompanhar o deslocamento do cavalo com maior contacto e suavidade possível. Poderíamos dizer que o cavalo está em liberdade vigiada.

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A disponibilidade do cavalo será procurada nas fases de transição dos andamentos de mudança de direcção ou de equilíbrio. Neste momento, os ângulos deverão se fechar suficientemente para que o cavalo volte a estar disponível instantaneamente às indicações.
Abrir os ângulos significa desdobrar a nuca e a bacia na sua posição de flexão mínima, poderíamos dizer quase naturais. Os músculos antagonistas, flexores e extensores, estão em oposição no esforço mínimo. Em consequência, a elasticidade permitida é mínima, o que minimiza as acções verticais e laterais, portanto o deslocamento tende a ser horizontal e ele segue uma trajectória retilínea.
O relaxamento é a chave do Enduro. Ele implica na utilização mínima do jogo articular. O relaxamento físico induz o relaxamento mental e o relaxamento neuro-vegetativo, logo fisiológico. Cavalos bem preparados dão a impressão de estarem noutro mundo, mesmo durante o movimento.
2 – Especificação técnica da equitação de EnduroEla se define como a capacidade em alternar de forma fluida e harmónica:
- Fases de deslocamento horizontal como aos ângulos abertos, as ajudas estando em vigia passiva e a locomoção tornando-se praticamente mecânica;
- Com as fases de disponibilidade instantânea para assegurar as mudanças de mão, de andamento, de direcção ou de equilíbrio com as ajudas activas (actuantes);
- Recolocar as ajudas em vigia passiva após ter obtido a cadência, o gesto e o relaxamento desejado, é técnica;
- Recolocar as ajudas em acção para assegurar as transições, é técnica;
- E, sobretudo, passar de uma técnica a outra sem ruptura de trem e de forma fluida também é técnica.
3 – PreconizaçãoPara os debutantes, é preciso começar por um trabalho clássico com paradas e mudanças de direcção, procurando obter sobre uma linha recta o gesto, a cadência e as transições desejadas com um cavalo em equilíbrio horizontal com os ângulos abertos.
As dificuldades serão efectuar este trabalho servindo-se, sobretudo, do assento e de um equilíbrio sobre os pés com as pernas bem descidas. O cavaleiro deverá adquirir uma mão capaz de diminuir e aumentar o comprimento das rédeas em permanência, o que significa alternar acção das ajudas em activa ou passiva sem abandonar o animal.
4 – Exemplos de trabalho e de lições- Trotar com as ajudas em vigia passiva, os ângulos do cavalo abertos, dentro de uma cadência determinada;
- Executar o mesmo exercício a galope;
- Efectuar as transições trote/galope à direita e à esquerda no mesmo trem, com os ângulos abertos;
- Efectuar as mudanças de mão a galope em linha recta no mesmo trem e com os ângulos abertos.
Importante: Evitar o trabalho em círculos, ele desgasta prematuramente boletos e jarretes.
5 – Objetivos do treinamento- Aquisição do gesto – adestramento;
- Trabalho de endurance metabólica;
- Trabalho de endurance e resistência.
Estes três objetivos não estão separados na prática. Trabalhando o gesto, trabalha-se também a endurance metabólica, mas devemos considerar que há uma cronologia. Na teoria, devemos inicialmente adquirir o gesto para poder trabalhar a endurance metabólica e uma vez adquiridos os dois, poderemos trabalhar a endurance resistência.
6 – Regras fundamentais- O trabalho de adestramento não deve passar de 20 m e o círculo deve ser usado o mínimo necessário. ;
- As sessões de treinamento devem ter no mínimo 1h30min;
- O esforço deve ser contínuo e regular;
- Jamais abandonar o trem no trabalho (períodos de aceleração). É uma contradição com a educação e mecanização do gesto;
- Durante o treinamento, devemos procurar a qualidade da equitação e do deslocamento do cavalo. É muito importante a escolha do piso.
Finalmente, para se ter certeza da aquisição do gesto e do adestramento colocamos as rédeas no pescoço do cavalo em movimento, e não há mudança de velocidade e nem de equilíbrio com o animal em perfeito estado de relaxamento, tanto ao trote como ao galope.
7 – ConclusãoA educação e a mecanização do gesto supõem um trabalho dentro de uma cadência regular. Não se deve jamais sair do trem. Somente os cavalos que adquiriram solidamente o gesto poderão se permitir momentos de aceleração.Não se deve esquecer que a base, o problema, vem sempre do cavaleiro. Todas as contracções do cavaleiro produzem de uma forma ou de outra, contracções no cavalo também.Embocaduras agressivas excitam o cavalo e, portanto, contrariam a busca ao relaxamento. Se possível, o cavaleiro deve durante o trabalho em locais de desnível acentuado fazer com que o cavalo se equilibre sem apoio das rédeas."

Por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo.